A produção de ouro no Burkina Faso diminuiu durante três anos consecutivos. Se se conhece em que proporções o volume extraído das minas industriais recuou, a produção artesanal tem sido historicamente mal avaliada. As estimativas para esta última situam-se entre 9,5 e 30 toneladas de ouro por ano, segundo a ONG SWISSAID.
No Burkina Faso, a produção de ouro aumentou 58% em termos anuais, atingindo 70,43 toneladas até setembro de 2025, contra cerca de 61 toneladas em todo o ano de 2024. Segundo detalhes divulgados esta semana pela imprensa local, citando o ministro das Minas, Yacouba Zabré Gouba, este aumento deve-se principalmente aos números do setor artesanal, onde a produção coletada chegou a 29,56 toneladas nos primeiros nove meses de 2025, contra 5,57 t no período correspondente de 2024.
Longe de ser uma surpresa, o crescimento do setor artesanal ocorreu progressivamente nos últimos anos, graças à criação da Société Nationale des Substances Précieuses (SONASP). Responsável pela compra da produção artesanal e semi-mecanizada de ouro, esta estrutura instalou postos de compra em todo o país para controlar melhor fluxos que ainda escapam amplamente às autoridades. Ouagadougou também contribuiu para a formalização de cooperativas de mineiros artesanais, integrando-as assim nos circuitos oficiais de comercialização do metal.
A formalização do setor artesanal permite sobretudo compensar o abrandamento da produção industrial, que se manteve estável em 40,87 toneladas até setembro de 2025, contra 39,24 toneladas no ano anterior. Entre o encerramento de algumas minas devido à insegurança e a venda de ativos de grandes companhias mineradoras em plena reorganização estratégica (Fortuna Mining, Endeavour Mining), o Burkina Faso registou três anos consecutivos de queda na produção de ouro. Para além das ações da SONASP, o governo retomou o controlo de algumas minas e encontrou investidores para novos projetos.
Mineiros industriais em dificuldade?
Se estas medidas estão a dar frutos gradualmente, num contexto de subida de 65% do preço do ouro, a contribuição das minas industriais ainda detidas por companhias estrangeiras continua a ser dominante. A canadiana Orezone concluiu, em meados de dezembro de 2025, um investimento de 80 milhões de USD que lhe permite aumentar em 45% a produção na mina de ouro Bomboré. O nacionalismo de recursos promovido pelo capitão Ibrahim Traoré, que se tornou presidente do Burkina Faso após um golpe de Estado em 2022, coloca, no entanto, um risco sobre a continuidade das atividades destas companhias.
O governo burquinense enviou este ano um pedido para deter até 50% da mina de ouro Kiaka, uma das maiores do país, com uma produção média anual esperada de mais de 7 toneladas durante 20 anos. O proprietário australiano, West African Resources, indicou estar a estudar várias opções para evitar este aumento da participação do Estado na mina (o Burkina Faso detém atualmente 15%), mas o desfecho permanece incerto. Outros projetos auríferos não estão a salvo de tais pedidos, previstos pelo novo código mineiro adotado em 2024, que permite a Ouagadougou adquirir, mediante pagamento, participações significativas nas minas.
Emiliano Tossou













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