Desde o início da guerra na Ucrânia, o comércio com a Rússia já não é o mesmo: está fortemente condicionado pelas sanções ocidentais. Neste caso, foi a Ucrânia que tomou medidas contra várias frotas, incluindo navios sob bandeira camaronesa.
Três navios sob a bandeira da República dos Camarões figuram na lista dos 56 navios recentemente sancionados pela Ucrânia. No dia 25 de novembro, por proposta do seu Conselho Nacional de Defesa e Segurança, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky assinou um decreto visando navios que exportam mercadorias, principalmente trigo russo, a partir dos portos de Sebastopol e Feodósia, na Crimeia, território ucraniano anexado pela Rússia em 2014.
Esta decisão insere-se na estratégia de Kiev de visar os fluxos comerciais considerados favoráveis ao esforço de guerra russo, em particular nos corredores marítimos controlados por Moscovo no Mar Negro.
A lista ucraniana inclui o Princess Eva, registado como navio de carga em Kribi (região do Sul dos Camarões); o USKO MFU, registado como navio de mercadorias em Kribi e Douala; e o Cometa Pawell, também navio de carga.
Cada um destes navios está sujeito a pelo menos oito medidas restritivas, aplicáveis por um período de 10 anos. Estas incluem, entre outras, o congelamento de ativos, restrições às operações comerciais, limitação das rotas de trânsito e a proibição de utilização do espectro de frequências de rádio ucraniano, além de outras restrições técnicas e operacionais.
Sanções com potencial extraterritorial
Embora estas medidas sejam adotadas no âmbito soberano da Ucrânia, o seu alcance pode ultrapassar as fronteiras do país. Podem ser replicadas ou consideradas por Estados que impuseram sanções à Rússia após a invasão da Ucrânia, em particular os países da União Europeia e, de forma mais ampla, pelo bloco ocidental.
O sinal enviado por Kiev visa reforçar a pressão económica e logística sobre a Rússia. Através deste mecanismo, a Ucrânia pretende prosseguir a resposta à intervenção militar russa iniciada em fevereiro de 2022, complicando a utilização de certas bandeiras de terceiros para o comércio marítimo.
Para os Camarões, este caso confirma a fragilidade da reputação da sua bandeira no cenário internacional. O país já recebeu um “cartão vermelho” da União Europeia pelo suposto laxismo na atribuição da bandeira relacionado com a pesca ilegal.
Navios sob bandeira camaronesa também foram acusados de participar na “frota fantasma” da Rússia, destinada a contornar sanções internacionais sobre exportações de petróleo russo. Estes factos alimentam críticas sobre a utilização da bandeira camaronesa em atividades à margem ou no limite das normas internacionais.
Sob pressão dos seus parceiros, o governo camarones comprometeu-se a limpar o setor, revendo os procedimentos de atribuição da bandeira nacional. O objetivo declarado é controlar melhor os armadores que optam por esta bandeira e reduzir os riscos de não conformidade com regimes de sanções e normas internacionais.
Neste momento, a frota mercante dos Camarões conta com pelo menos 223 navios, representando mais de 3 milhões de toneladas de arqueação bruta. Neste contexto, qualquer medida direcionada a navios sob bandeira camaronesa poderá ter repercussões na perceção geral desta frota por parte das autoridades de fiscalização, seguradoras e operadores de transporte.
Ludovic Amara (Investir au Cameroun)













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