Esta evolução reforça as preocupações em torno da sustentabilidade da dívida e da capacidade do Estado gabonês de cumprir as suas obrigações financeiras dentro dos prazos estabelecidos, em particular face a determinados credores e prestadores de serviços.
No final de outubro de 2025, a dívida pública do Gabão registou um forte aumento. Segundo dados da Direção-Geral da Dívida (DGD), o stock global passou de 7 133 mil milhões para 8 606,6 mil milhões de FCFA (15,37 mil milhões de dólares), o que representa um acréscimo de cerca de 1 473 mil milhões em dez meses. Este aumento de 20,6% ilustra o recurso acrescido do Estado ao endividamento para cobrir as suas necessidades de financiamento, num contexto marcado por fortes tensões de tesouraria.
Esta subida é impulsionada sobretudo pela dívida interna, cujo montante em dívida atinge agora 4 391,9 mil milhões de FCFA. O mercado financeiro regional representa a maior parte desse valor, com mais de 3 200 mil milhões, confirmando a dependência crescente do Tesouro gabonês em relação a este canal de financiamento.
A dívida externa, por sua vez, situa-se em 4 214,8 mil milhões de FCFA. É largamente dominada por credores multilaterais e pelo mercado financeiro internacional. Os compromissos junto das instituições multilaterais rondam os 1 646,7 mil milhões, enquanto a dívida contraída nos mercados internacionais ultrapassa os 1 397 mil milhões de FCFA.
Esta estrutura reflete um recurso crescente a financiamentos comerciais e obrigacionistas para apoiar as políticas públicas.
Os atrasos continuam a acumular-se
Paralelamente, os atrasos no pagamento da dívida continuam a aumentar. No final de outubro de 2025, atingiram 443,6 mil milhões de FCFA (792 milhões de dólares), mais 174 mil milhões de FCFA em comparação com dezembro de 2024. Este montante inclui prestações correntes não pagas e atrasos mais antigos, revelando dificuldades persistentes na gestão da liquidez pública.
Esta situação suscita preocupações quanto à sustentabilidade da dívida e à capacidade do Estado de honrar os seus compromissos atempadamente, nomeadamente perante certos credores e fornecedores, com potenciais repercussões na atividade económica.
Uma trajetória considerada preocupante
A dinâmica atual da dívida tende a confirmar as previsões das instituições financeiras internacionais, que apontam para um agravamento do endividamento do Gabão nos próximos anos. De acordo com a mais recente nota de conjuntura económica do Banco Mundial, intitulada “Construir e preservar as riquezas do Gabão para melhorar as condições de vida das populações”, a dívida pública gabonesa deverá continuar a aumentar, atingindo 86,1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2027, um nível claramente acima do critério de convergência da CEMAC fixado em 70%.
Perante estas perspetivas, as autoridades gabonesas defendem uma abordagem centrada na qualidade do endividamento. Para Henri-Claude Oyima (foto), ministro da Economia, das Finanças, da Dívida e das Participações, responsável pela luta contra o custo de vida, o desafio não é reduzir o stock da dívida a qualquer preço, mas sim transformá-la num motor de crescimento. “A dívida torna-se problemática quando não gera qualquer receita. O nosso objetivo é construir uma boa dívida: quando os empréstimos financiam investimentos estruturantes que produzem receitas adicionais, a dívida torna-se um fator de desenvolvimento”, declarou recentemente à imprensa local.
Sandrine Gaingne













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